“É nesta toada de comovida oração que saúdo e abraço a bela, antiga e ilustre Diocese de Lamego, todos os filhos e filhas de Deus que nela levantam as mãos e o coração para Deus, desde os mais pequeninos até aos mais idosos, todos e todas as comunidades e paróquias, com os/as seus/suas catequistas, cantores, acólitos, leitores, zeladoras, confrarias, movimentos, ministros da comunhão, animadores da caridade, seminaristas, institutos religiosos e seculares, diáconos, presbíteros, serviços e secretariados, colégio de consultores e cabido da Sé Catedral”l (..)
Não falta aqui nada, qual barca de Noé, salvadora da criação do mundo! É esta a Igreja feita de ALMAS de carne e osso e não tanto as de pedra de torres e sinos altaneiras (coisas que até os presidentes de câmaras e de juntas são capazes de fazer como as suas emblemáticas rotundas a cada 50 metros viários).
Igreja de homens e mulheres com timoneiros assim, na imagem de um PASTOR é que convencem! Sinais de BOM PASTROR estão bem evidentes no texto que o Pe. Isidro iluminadamente aqui nos traz! A diferença entre este texto e uma qualquer CARTA de S. Paulo (que PASTOR foi este S. Paulo!!!) a tantos povos que apascentou (Corinto, Filipos, Tessalónica, Cartago, e tantos outros do seu tempo) apenas diferem no tempo! O carisma de PATOR de ALMAS é igual, ouso comparar!
São estes sinais que me fazem não desistir de tentar ir por ali, pelo caminho de um certo Galileu… E tentar já é estar a caminho.
Bem-vindo D. António José da Rocha Couto à minha cidade de Lamego.
Vai gostar de estar por cá entre a gente porque sois UM BOM PASTOR.
Filipe Lamelas
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Habemus Episcopus
Com alegria e confiança de criança, levanto os meus olhos para os montes, para Aquele que guarda a minha vida, de noite e de dia, quando saio e quando entro, desde agora e para sempre! É com esta luminosa melodia do Salmo 121, que canto, neste dia, ao bom Deus, que sei bem que «tem sido o meu pastor desde que existo até hoje» (Génesis 48,15).
D’Ele quero ser transparência pura, sempre, como Ele, pastor que visita, com um olhar repleto de bondade, beleza e maravilha, os seus filhos e filhas que Ele agora me confia. Enche sempre, Senhor, o meu olhar, mãos e coração com a tua presença bela e boa. Que, em mim, sejas sempre Tu a visitar o teu povo. É esta divina maneira de ver bem, belo e bom (episképtomai), que diz o bispo (epískopos) e a visita ou visitação pastoral (episkopê) (Lucas 1,78; 7,16; 19,44).
É nesta toada de comovida oração que saúdo e abraço a bela, antiga e ilustre Diocese de Lamego, todos os filhos e filhas de Deus que nela levantam as mãos e o coração para Deus, desde os mais pequeninos até aos mais idosos, todos e todas as comunidades e paróquias, com os/as seus/suas catequistas, cantores, acólitos, leitores, zeladoras, confrarias, movimentos, ministros da comunhão, animadores da caridade, seminaristas, institutos religiosos e seculares, diáconos, presbíteros, serviços e secretariados, colégio de consultores e cabido da Sé Catedral, e o meu querido amigo e irmão no episcopado, D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, a quem saúdo com particular afeto.
Estarei amanhã [domingo], Dia da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, em comunhão com todos vós na celebração do Dia da Igreja Diocesana, e sentirei convosco «A Família e a Igreja nos caminhos da Nova Evangelização». Que o Senhor a quem servimos e que nos mandou servir os nossos irmãos mais pequeninos encha das suas graças o jovem Ricardo Jorge Ribeiro Barroco, que amanhã receberá a Ordenação Diaconal. Para todos invoco a bênção de Cristo Rei, e a proteção de S. Sebastião, Padroeiro da nossa Diocese de Lamego, e de Maria, Mãe de Deus e nossa mãe, que particularmente invocamos como Nossa Senhora dos Remédios.
Quero, nesta hora de graça, manifestar também o meu afeto e gratidão à Igreja Bracarense, que Deus me deu a graça de servir nos últimos quatro anos. O meu abraço grato e fraterno ao Senhor Arcebispo Primaz, D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, e ao Senhor Manuel da Silva Rodrigues Linda., que tem sido comigo Bispo Auxiliar. As minhas mais afetuosas saudações a todos aqueles que, nestes quatro anos, Deus colocou no meu caminho: presbíteros, diáconos, seminaristas, fiéis leigos empenhados no «trabalho do amor» (1 Tessalonicenses 1,3) e o bom povo de Deus, a quem tanto fico a dever.
À Igreja de Lamego que servirei agora, à Igreja de Braga que servi nestes quatro anos, à Sociedade Missionária da Boa Nova que me acolheu desde criança e em cujo seio aprendi a dilatar o coração, e a todas as Igrejas por onde tive a graça de passar e de servir, a todos peço que «luteis comigo na oração» (Romanos 15,30) para que eu possa ser sempre fiel à causa do Evangelho.
Esta hora de graça serve ainda para atestar a minha fidelidade, comunhão e gratidão ao nosso Papa Bento XVI, e também a minha lealdade e comunhão ao Senhor Núncio Apostólico em Portugal, D. Rino Passigato, e a todo o Colégio Episcopal.
Braga, 19 de novembro de 2011, Memória de Santa Maria no Sábado
D. António José da Rocha Couto
D’Ele quero ser transparência pura, sempre, como Ele, pastor que visita, com um olhar repleto de bondade, beleza e maravilha, os seus filhos e filhas que Ele agora me confia. Enche sempre, Senhor, o meu olhar, mãos e coração com a tua presença bela e boa. Que, em mim, sejas sempre Tu a visitar o teu povo. É esta divina maneira de ver bem, belo e bom (episképtomai), que diz o bispo (epískopos) e a visita ou visitação pastoral (episkopê) (Lucas 1,78; 7,16; 19,44).
É nesta toada de comovida oração que saúdo e abraço a bela, antiga e ilustre Diocese de Lamego, todos os filhos e filhas de Deus que nela levantam as mãos e o coração para Deus, desde os mais pequeninos até aos mais idosos, todos e todas as comunidades e paróquias, com os/as seus/suas catequistas, cantores, acólitos, leitores, zeladoras, confrarias, movimentos, ministros da comunhão, animadores da caridade, seminaristas, institutos religiosos e seculares, diáconos, presbíteros, serviços e secretariados, colégio de consultores e cabido da Sé Catedral, e o meu querido amigo e irmão no episcopado, D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, a quem saúdo com particular afeto.
Estarei amanhã [domingo], Dia da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, em comunhão com todos vós na celebração do Dia da Igreja Diocesana, e sentirei convosco «A Família e a Igreja nos caminhos da Nova Evangelização». Que o Senhor a quem servimos e que nos mandou servir os nossos irmãos mais pequeninos encha das suas graças o jovem Ricardo Jorge Ribeiro Barroco, que amanhã receberá a Ordenação Diaconal. Para todos invoco a bênção de Cristo Rei, e a proteção de S. Sebastião, Padroeiro da nossa Diocese de Lamego, e de Maria, Mãe de Deus e nossa mãe, que particularmente invocamos como Nossa Senhora dos Remédios.
Quero, nesta hora de graça, manifestar também o meu afeto e gratidão à Igreja Bracarense, que Deus me deu a graça de servir nos últimos quatro anos. O meu abraço grato e fraterno ao Senhor Arcebispo Primaz, D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, e ao Senhor Manuel da Silva Rodrigues Linda., que tem sido comigo Bispo Auxiliar. As minhas mais afetuosas saudações a todos aqueles que, nestes quatro anos, Deus colocou no meu caminho: presbíteros, diáconos, seminaristas, fiéis leigos empenhados no «trabalho do amor» (1 Tessalonicenses 1,3) e o bom povo de Deus, a quem tanto fico a dever.
À Igreja de Lamego que servirei agora, à Igreja de Braga que servi nestes quatro anos, à Sociedade Missionária da Boa Nova que me acolheu desde criança e em cujo seio aprendi a dilatar o coração, e a todas as Igrejas por onde tive a graça de passar e de servir, a todos peço que «luteis comigo na oração» (Romanos 15,30) para que eu possa ser sempre fiel à causa do Evangelho.
Esta hora de graça serve ainda para atestar a minha fidelidade, comunhão e gratidão ao nosso Papa Bento XVI, e também a minha lealdade e comunhão ao Senhor Núncio Apostólico em Portugal, D. Rino Passigato, e a todo o Colégio Episcopal.
Braga, 19 de novembro de 2011, Memória de Santa Maria no Sábado
D. António José da Rocha Couto
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
domingo, 4 de setembro de 2011
NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS, já foi a ROMARIA DE PORTUGAL
Obviamente de qualquer lamecense (também de Penude) ao passar pelo baconino mês de Setembro, para além do fim das “malhadas”, da “arranca”, dos primeiros “Nabais”, da embriagues das vindimas (do vinho fino e outros mostos menos generosos que as margens do nosso vizinho rio Douro oferenda aos homens da terra) lembrar-se-á, de certeza, dessa festividade que já foi “A ROMARIA DE PORTUGAL”, ou seja das festas de nossa senhora dos Remédios, padroeira da cidade de Lamego. Com ela veio-me também à memória a palavra “ROMEIRO”, expressão que neste mês e nos tempos de criança tinha um sentido quase mágico. Lembro-me, como se fosse hoje, em que eu e meus irmãos (Carlos, Isidro, Fátima) andávamos por aquelas “lameiras” (Decavaleiro, Decanhardo, Cortes, S. Silvestre, Morqueijo, Tapada, Lameira Solta) e serras (Meadas) com o gado a pastar (vacas, burra, cabras, etc) e víamos pelos caminhos ancestrais (térreos ou graníticos, que lavravam celticamente aquelas terras “do demos” mas também de um Deus que nos ensinaram e piamente acreditávamos e metodicamente ainda acredito, “mutais mutandis”…) fileiras intermináveis de ROMEIROS se movimentando serranias abaixo que nem o enorme terço de minha mãe desfiado ordeira e piamente rumo à “salva rainha, mãe de misericórdia” e ao “abença pai abença mãe”! Que criatura felizes eram estes PEREGRINOS de Nossa Senhora dos Remédios! A pé ou a cavalo nas suas mulas, éguas, burras ou a pé, uns ante outros, como eu os estou a ver, descendo, descendo até desaguarem pelo largo da feira em Lamego. Traziam consigo sonhos, agradecimentos (pela “nobidade” que foi melhor de nos demais anos, promessas (de uma “maleita” curada ao rapazeco ou à patroa (ou aos gadinhos, que ali também eram gente…). Para além da cura da alma estes ROMEIROS de Nossa Senhora dos Remédios que passavam por todos os caminhos (hoje de silvas, mato e outro entulho) do vale da freguesia de Penude, traziam os alforges dos cavalos, mulas e burrecas, repletos de manjares tão bons, tão deliciosos, tão paradisíacos que não há metáforas que os comparem ao quer que seja! Ok, não encontrando melhor expressão, direi então, que eram di-vi-nais ! Ainda eles vinha descendo por aquelas veredas que entaipavam as nossas “lameiras” e, já a umas centenas de metros sentíamos o cheiro a bola de bacalhau, a salpicão da língua, a presunto, a moira, a postas de bacalhau no ovo ou farinha frita. Para já não falar dos garrafões de vinho dependurados ou em “pipitos de beber”. E nem imaginam, caros leitores, como estas “pingas” vindas lá das serras desta gente deviam ser “daqui” (de trás da orelha!!!). Sim porque estes nossos ROMEIROS vinham quase sempre a cantar por ali abaixo, quase não sentindo a dor dos pés naquela caminhada agreste de caminhos acidentados. Cantavam cações religiosas e profanas, numa mistura a que o tal deus Baco não era nada indiferente… Estas vozes de homens e mulheres (raramente se via uma criança…um dia havia de chegar a sua vez, ao contrário de hoje que querem e lhes damos tudo, como “não houvesse um tempo”) eram acompanhadas por uma ou outra concertina e muitos “realejos” bailando naqueles beiços que nem moça serrana em primeiro coito nupcial (que, como sabem, também já não existem…). Cantavam “Ó Manel da rola tens as calças rotas, tens os olhos tortos as pernas marotas”; “Óh oliveira da serra”; e também cantigas bentas.
Por onde passavam estes bons ROMEIROS procuravam, de quando em vez, ter gestos de “bons cristãos” e então ora davam um pedaço de bola a um pedinte, a uma criança que apascentava o gado por aqueles campos (na altura não existia trabalho infantil…). Tanto assim era que, numa ocasião em que eu e meus irmãos Carlos Manuel e Isidro “andávamos com as vacas” numas terras que o nosso pai tinha em S. Silvestre, lembramo-nos de irmos “pedir uma esmola” aos ROMEIROS que peregrinavam por ali rumo à Senhora dos Remédios. Então pegamos nas roupas mais velhas que os 3 tínhamos vestidas para o Carlos vestir, assim dando a ideia de pobrezinho! Assim vestido da pior roupita dos 3, o coitado do moço lá se foi aproximando do caminho onde eles não tardariam a passar (ficando nós, eu e Isidro) escondidos cá em cima atrás de uns amieiros, instruindo o Carlos a dizer “Dê-me um esmolinha que eu sou pobrezinho”. Quando finalmente os ROMEIROS estavam a passar no caminho bem pertinho ao muro da lameira onde estava o Carlos, este começou a dizer a tal frase, só que com vergonha, não se mostrava à fileira de ROMEIROS que vinham cantarolando aos sons dos realejos. Então, eu e o Isidro, cá de cima, balbuciávamos para o Carlos para se mostrar e gritar a frase mais alto, antes que todos passassem e …nada!!!
A verdade é que o mano Carlos tinha mais vergonha que fome (fome não, mas carência dos tais “manjares”), acabando o nosso plano por ser ir pela agua abaixo…falhando redondamente!
Enfim, era esta lembrança que vos queria deixar, ao mesmo tempo que presto uma simbólica homenagem a esses homens e mulheres que à volta de Penude e Lamego serpenteavam pelos caminhos da nossa infância rumo à padroeira da cidade de Lamego na “ROMARIA DE PORTUGAL” que Nossa Senhora dos Remédios já foi e que hoje passa tão discretamente no mapa das nossas folias e piedades…
E aos que ainda rumarem até Lamego às festas de Nossa Senhora dos Remédios, desejo as maiores felicidades e bênçãos da Senhora.
Abraço a todos.
5 de Setembro 2011-09-04
Filipe Lamelas
Por onde passavam estes bons ROMEIROS procuravam, de quando em vez, ter gestos de “bons cristãos” e então ora davam um pedaço de bola a um pedinte, a uma criança que apascentava o gado por aqueles campos (na altura não existia trabalho infantil…). Tanto assim era que, numa ocasião em que eu e meus irmãos Carlos Manuel e Isidro “andávamos com as vacas” numas terras que o nosso pai tinha em S. Silvestre, lembramo-nos de irmos “pedir uma esmola” aos ROMEIROS que peregrinavam por ali rumo à Senhora dos Remédios. Então pegamos nas roupas mais velhas que os 3 tínhamos vestidas para o Carlos vestir, assim dando a ideia de pobrezinho! Assim vestido da pior roupita dos 3, o coitado do moço lá se foi aproximando do caminho onde eles não tardariam a passar (ficando nós, eu e Isidro) escondidos cá em cima atrás de uns amieiros, instruindo o Carlos a dizer “Dê-me um esmolinha que eu sou pobrezinho”. Quando finalmente os ROMEIROS estavam a passar no caminho bem pertinho ao muro da lameira onde estava o Carlos, este começou a dizer a tal frase, só que com vergonha, não se mostrava à fileira de ROMEIROS que vinham cantarolando aos sons dos realejos. Então, eu e o Isidro, cá de cima, balbuciávamos para o Carlos para se mostrar e gritar a frase mais alto, antes que todos passassem e …nada!!!
A verdade é que o mano Carlos tinha mais vergonha que fome (fome não, mas carência dos tais “manjares”), acabando o nosso plano por ser ir pela agua abaixo…falhando redondamente!
Enfim, era esta lembrança que vos queria deixar, ao mesmo tempo que presto uma simbólica homenagem a esses homens e mulheres que à volta de Penude e Lamego serpenteavam pelos caminhos da nossa infância rumo à padroeira da cidade de Lamego na “ROMARIA DE PORTUGAL” que Nossa Senhora dos Remédios já foi e que hoje passa tão discretamente no mapa das nossas folias e piedades…
E aos que ainda rumarem até Lamego às festas de Nossa Senhora dos Remédios, desejo as maiores felicidades e bênçãos da Senhora.
Abraço a todos.
5 de Setembro 2011-09-04
Filipe Lamelas
segunda-feira, 25 de julho de 2011
"A CIGARRA E A FORMIGA"

Todos lembramos a famosa história da cigarra e da formiga que líamos nos nossos livros de criança. No passado, a fábula de La Fontaine era contada para ensinar pequenos e graúdos que “quem não trabuca não manduca”, isto é, “quem não trabalha não come”. Nesta ordem de valores a laboriosa formiga era apresentada como modelo de vida a imitar. Pensava-se que o homem viera ao mundo para trabalhar, e via-se mesmo neste destino uma pena sentenciada na sequência do pecado de Adão: “comerás o pão com o suor do teu rosto”. Neste mesmo contexto, a cigarra personificava o vício da preguiça e, portanto, o exemplo a não seguir. A moral da história era então muito clara: “Quem bem trabalhou, melhor descansou” ou “a preguiça colhe o que merece”. O livro bíblico dos Provérbios confirma estes ditados do nosso povo, quando diz: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, observa o seu proceder e torna-te sábio: a formiga não não tendo chefe, nem capataz, nem mestre, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa. Até quando dormirás tu, ó preguiçoso? Quando te levantarás do teu sono? Passas o tempo a dormir, cruzas os braços para descansar; assim a indigência cairá sobre ti como um salteador” (6,6-11).
Em evidente contraste com este elogio da formiga e do trabalho, nos nossos dias multiplicaram-se as novas versões da velha fábula em que os papéis e os valores se invertem. Agora é a Cigarra que aparece como modo de vida por todos invejado. Se na versão antiga se dizia “não guardes para amanhã o que podes fazer hoje”, nas novas versões corrige-se o rifão, dizendo: “não deixes de para amanhã o lazer de hoje”. Em abono desta compreensão típica dos nossos tempos, poderíamos citar também um passo bíblico, onde se diz que «mais vale um punhado de lazer do que duas mãos cheias de esforço atrás do vento» (Ecl. 4,6).
Afinal quem tem razão, a cigarra ou a formiga? Os nossos contemporâneos ou os antigos?
Na verdade, nenhuma deste, pois o trabalho é importante, mas nós não podemos viver só para o trabalho, nem a adiar a vida com a obsessão de acumular riquezas para garantir o futuro que nãos nos pertence. Por isso existe, tanto no Judaísmo como no Cristianismo e Islamismo existe “o dia do repouso”, como o mais importante dia da semana: Para nos lembrar que o “sábado (ou o domingo) é para o homem” e não é o homem que é para o sábado ou para a semana de trabalho. Mas também se deve evitar o exagero oposto da cigarra que só vive para desfrutar do hoje, num carpe die sem projecto nem compromissos. Não somos máquinas de trabalho e, por isso, temos direito aos descanso, ao lazer e ao cultivo das coisas belas; mas também não podemos ser parasitas sociais nem pretender viver em permanente ócio, como se neste mundo vivesse-mos já no “descanso eterno”.
A famosa fábula mostra-nos que todos nós temos direito de ser cigarra e formiga e que há um tempo para trabalhar e para repousar, para semear e para colher e celebrar, um tempo para “lutar pela vida” e um tempo para concelebrar a vida e partilhar nosso bens com os outros. Mais ainda, se a cigarra nos ensina que devemos confiar na Divina Providência, a Formiga ensina-nos que esta confiança não dispensa o nosso esforço e colaboração na obra e no Reino de Deus. Devamos, sim, trabalhar como se tudo dependesse de nós e confiar sempre como se tudo dependesse de Deus. Por fim, a singela história remete-nos ainda para uma outra lição: Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar, nem tão rico que não tenha algo para receber. Por isso, quem tem mais meios, mesmo que os tenha amealhado à custa do seu honrado trabalho, não pode simplesmente escondê-los e considerá-los “seus”, já que Deus lhe deu tais dons para partilhar com quem tem menos. Por outro lado, estes últimos, não podem querer simplesmente receber ou exigir, pois também a eles Deus pede que partilhem o que são e os talentos que têm. Ninguém deve, pois, ter vergonha de, como a cigarra, “bater à porta” a pedir ajuda, assim como ninguém deve fechar a sua porta, podendo ajudar.
Neste tempo de férias e de crise, faz-nos bem reler a fábula à luz da Escrituras Inspiradas que nos dizem, por um lado que o trabalho é “uma bênção de Deus” (Ecl 3,13) e que todos devemos “fazer render nossos talentos” (Mt 25, 14ss.); mas que também nos avisa, pela boca do próprio Jesus, que “não nos devemos inquietar com o que havemos de comer ou vestir, pois a vida é muito mais que o alimento… nem com o dia de amanhã» (cf. Mt 6, 25-31).
Isidro P. Lamelas
terça-feira, 12 de julho de 2011
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