Serafim Ferreira da Silva,
bandeirante da paz e bem
Tive conhecimento pelo jornal “Missões Franciscanas, uma
publicação da União Missionária Franciscana (OFM), no seu N.º 791/01/2013, do falecimento de Frei Serafim Ferreira da Silva, sendo
que, na sua nota biográfica consta que (…) “regressado a definitivamente a
Portugal em 1968, o bichinho missionário continuava a roer-lhe lá por dentro,
sendo diretor deste mensário e depois Vice-Procurador da UMF, cargo que exerceu
durante largos anos. Foi nesta qualidade que assumiu o trabalho de animação
missionária, pela palavra e pelos meios audiovisuais, a partir de 1971 e durante
mais de 30 anos.” (…). È precisamente por causa desta faceta deste “bandeirante”
da UFM (pela palavra e pelos meios audiovisuais, a partir de 1971 e durante mais
de 30 anos) que este meu texto pode acontecer.
Com efeito estaríamos, se a memória não me
engana, no ano de 1972/1973, andava este franciscano (acompanhado do seu colega
o Frei Vieira, ainda bem vivo e que o Altíssimo o guarde assim, lá pelo Largo da
Luz, cuidando, agora da horta e jardins que nem os melhores mestres dos jardins
da Babilónia ou Versailles) sempre numa carrinha 404 de cor creme (apinhada de
livros, agendas, patelas, maquinas de slides e de filmar, resmas de fios
eléctricos e sei lá que mais!) correndo as quatro aragens desta terra lusa,
desbravando a selva da interioridade beirã que nem bandeirante procurando o ouro
da boa vontade pregando-lhes Francisco, da “paz e do bem” a quem Cristo abraçou,
do cima da cruz.
Foi nesta “preguera”, domingo à tarde, lá pelo
verão desses tempos idos que esta caravana de paz e do bem, trepou a Penude,
portas de Lamego acima, tudo desmontando metodicamente no átrio da igreja (S.
Pedro de Penude) enquanto, em sua volta, miúdos atentos, olhinhos precisos
naquele desmontar de fios e pagelas santas, livrinhos e gestos em terra serrana
em que nada havia ou acontecia…Era num Domingo, dia santo de guarda, da parte da
tarde, no salão da Igreja, pequeno e escuro, agaiatada á pinha todos ali juntos
(uns da catequese, outros da “cruzada”, do “grupo de jovens”, ou da “acção
católica) a vermos o frade (Serafim da Silva) de máquina em riste quase quase
pronta a rodar a vida do Santo de Assis a quem Cristo abraçou, do alto da cruz.
Quantos daqueles pequenos não estariam a ver,
pela primeira vez um filme na tela (mesmo que improvisada, e muito riscada e
interrompida e a preto e branco)! Devo a este homem (bandeirante firme, daquela
mensagem, trazida de Assis) os primeiros passos do gosto que tenho pelo cinema
e, obviamente, da busca de Deus através da fraternidade humana no jeito de
Assis.
Comovidamente quero, assim, recordar e homenagear
este homem que, para além da mensagem de paz e bem, levou rudimentos da arte
suprema da tela a tantas paragens do Portugal profundo, onde o poder político
apenas chegava para colher a maquia tributária dos bolsos já praticamente vazios
de um povo massacrado pela ignorância (a maior de todas as fomes que um homem
pode ter!)e lá continua, quase como dantes, talvez mais vazio de gente e
destino...
Obrigado Serafim Ferreira da Silva
Filipe Lamelas
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