quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

caloroso abraço

A todos os penudenses da diáspora ou que se mantenham guardiões da da nossa terra (semeada no peito da Serra das Meadas) deixo os habituais, mas irresistivelmente sempre novos, votos:


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Penude - São Pedro - Lamego: Habemus Episcopus

“É nesta toada de comovida oração que saúdo e abraço a bela, antiga e ilustre Diocese de Lamego, todos os filhos e filhas de Deus que nela levantam as mãos e o coração para Deus, desde os mais pequeninos até aos mais idosos, todos e todas as comunidades e paróquias, com os/as seus/suas catequistas, cantores, acólitos, leitores, zeladoras, confrarias, movimentos, ministros da comunhão, animadores da caridade, seminaristas, institutos religiosos e seculares, diáconos, presbíteros, serviços e secretariados, colégio de consultores e cabido da Sé Catedral”l (..)
Não falta aqui nada, qual barca de Noé, salvadora da criação do mundo! É esta a Igreja feita de ALMAS de carne e osso e não tanto as de pedra de torres e sinos altaneiras (coisas que até os presidentes de câmaras e de juntas são capazes de fazer como as suas emblemáticas rotundas a cada 50 metros viários).

Igreja de homens e mulheres com timoneiros assim, na imagem de um PASTOR é que convencem! Sinais de BOM PASTROR estão bem evidentes no texto que o Pe. Isidro iluminadamente aqui nos traz! A diferença entre este texto e uma qualquer CARTA de S. Paulo (que PASTOR foi este S. Paulo!!!) a tantos povos que apascentou (Corinto, Filipos, Tessalónica, Cartago, e tantos outros do seu tempo) apenas diferem no tempo! O carisma de PATOR de ALMAS é igual, ouso comparar!

São estes sinais que me fazem não desistir de tentar ir por ali, pelo caminho de um certo Galileu… E tentar já é estar a caminho.
Bem-vindo D. António José da Rocha Couto à minha cidade de Lamego.

Vai gostar de estar por cá entre a gente porque sois UM BOM PASTOR.

Filipe Lamelas

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Habemus Episcopus

Com alegria e confiança de criança, levanto os meus olhos para os montes, para Aquele que guarda a minha vida, de noite e de dia, quando saio e quando entro, desde agora e para sempre! É com esta luminosa melodia do Salmo 121, que canto, neste dia, ao bom Deus, que sei bem que «tem sido o meu pastor desde que existo até hoje» (Génesis 48,15).
D’Ele quero ser transparência pura, sempre, como Ele, pastor que visita, com um olhar repleto de bondade, beleza e maravilha, os seus filhos e filhas que Ele agora me confia. Enche sempre, Senhor, o meu olhar, mãos e coração com a tua presença bela e boa. Que, em mim, sejas sempre Tu a visitar o teu povo. É esta divina maneira de ver bem, belo e bom (episképtomai), que diz o bispo (epískopos) e a visita ou visitação pastoral (episkopê) (Lucas 1,78; 7,16; 19,44).
É nesta toada de comovida oração que saúdo e abraço a bela, antiga e ilustre Diocese de Lamego, todos os filhos e filhas de Deus que nela levantam as mãos e o coração para Deus, desde os mais pequeninos até aos mais idosos, todos e todas as comunidades e paróquias, com os/as seus/suas catequistas, cantores, acólitos, leitores, zeladoras, confrarias, movimentos, ministros da comunhão, animadores da caridade, seminaristas, institutos religiosos e seculares, diáconos, presbíteros, serviços e secretariados, colégio de consultores e cabido da Sé Catedral, e o meu querido amigo e irmão no episcopado, D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho, a quem saúdo com particular afeto.
Estarei amanhã [domingo], Dia da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, em comunhão com todos vós na celebração do Dia da Igreja Diocesana, e sentirei convosco «A Família e a Igreja nos caminhos da Nova Evangelização». Que o Senhor a quem servimos e que nos mandou servir os nossos irmãos mais pequeninos encha das suas graças o jovem Ricardo Jorge Ribeiro Barroco, que amanhã receberá a Ordenação Diaconal. Para todos invoco a bênção de Cristo Rei, e a proteção de S. Sebastião, Padroeiro da nossa Diocese de Lamego, e de Maria, Mãe de Deus e nossa mãe, que particularmente invocamos como Nossa Senhora dos Remédios.
Quero, nesta hora de graça, manifestar também o meu afeto e gratidão à Igreja Bracarense, que Deus me deu a graça de servir nos últimos quatro anos. O meu abraço grato e fraterno ao Senhor Arcebispo Primaz, D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, e ao Senhor Manuel da Silva Rodrigues Linda., que tem sido comigo Bispo Auxiliar. As minhas mais afetuosas saudações a todos aqueles que, nestes quatro anos, Deus colocou no meu caminho: presbíteros, diáconos, seminaristas, fiéis leigos empenhados no «trabalho do amor» (1 Tessalonicenses 1,3) e o bom povo de Deus, a quem tanto fico a dever.
À Igreja de Lamego que servirei agora, à Igreja de Braga que servi nestes quatro anos, à Sociedade Missionária da Boa Nova que me acolheu desde criança e em cujo seio aprendi a dilatar o coração, e a todas as Igrejas por onde tive a graça de passar e de servir, a todos peço que «luteis comigo na oração» (Romanos 15,30) para que eu possa ser sempre fiel à causa do Evangelho.
Esta hora de graça serve ainda para atestar a minha fidelidade, comunhão e gratidão ao nosso Papa Bento XVI, e também a minha lealdade e comunhão ao Senhor Núncio Apostólico em Portugal, D. Rino Passigato, e a todo o Colégio Episcopal.
Braga, 19 de novembro de 2011, Memória de Santa Maria no Sábado
D. António José da Rocha Couto

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

GENTE DE PENUDE

http://sicnoticias.sapo.pt/programas/edicaodamanha/article993982.ece

domingo, 4 de setembro de 2011

NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS, já foi a ROMARIA DE PORTUGAL

Obviamente de qualquer lamecense (também de Penude) ao passar pelo baconino mês de Setembro, para além do fim das “malhadas”, da “arranca”, dos primeiros “Nabais”, da embriagues das vindimas (do vinho fino e outros mostos menos generosos que as margens do nosso vizinho rio Douro oferenda aos homens da terra) lembrar-se-á, de certeza, dessa festividade que já foi “A ROMARIA DE PORTUGAL”, ou seja das festas de nossa senhora dos Remédios, padroeira da cidade de Lamego. Com ela veio-me também à memória a palavra “ROMEIRO”, expressão que neste mês e nos tempos de criança tinha um sentido quase mágico. Lembro-me, como se fosse hoje, em que eu e meus irmãos (Carlos, Isidro, Fátima) andávamos por aquelas “lameiras” (Decavaleiro, Decanhardo, Cortes, S. Silvestre, Morqueijo, Tapada, Lameira Solta) e serras (Meadas) com o gado a pastar (vacas, burra, cabras, etc) e víamos pelos caminhos ancestrais (térreos ou graníticos, que lavravam celticamente aquelas terras “do demos” mas também de um Deus que nos ensinaram e piamente acreditávamos e metodicamente ainda acredito, “mutais mutandis”…) fileiras intermináveis de ROMEIROS se movimentando serranias abaixo que nem o enorme terço de minha mãe desfiado ordeira e piamente rumo à “salva rainha, mãe de misericórdia” e ao “abença pai abença mãe”! Que criatura felizes eram estes PEREGRINOS de Nossa Senhora dos Remédios! A pé ou a cavalo nas suas mulas, éguas, burras ou a pé, uns ante outros, como eu os estou a ver, descendo, descendo até desaguarem pelo largo da feira em Lamego. Traziam consigo sonhos, agradecimentos (pela “nobidade” que foi melhor de nos demais anos, promessas (de uma “maleita” curada ao rapazeco ou à patroa (ou aos gadinhos, que ali também eram gente…). Para além da cura da alma estes ROMEIROS de Nossa Senhora dos Remédios que passavam por todos os caminhos (hoje de silvas, mato e outro entulho) do vale da freguesia de Penude, traziam os alforges dos cavalos, mulas e burrecas, repletos de manjares tão bons, tão deliciosos, tão paradisíacos que não há metáforas que os comparem ao quer que seja! Ok, não encontrando melhor expressão, direi então, que eram di-vi-nais ! Ainda eles vinha descendo por aquelas veredas que entaipavam as nossas “lameiras” e, já a umas centenas de metros sentíamos o cheiro a bola de bacalhau, a salpicão da língua, a presunto, a moira, a postas de bacalhau no ovo ou farinha frita. Para já não falar dos garrafões de vinho dependurados ou em “pipitos de beber”. E nem imaginam, caros leitores, como estas “pingas” vindas lá das serras desta gente deviam ser “daqui” (de trás da orelha!!!). Sim porque estes nossos ROMEIROS vinham quase sempre a cantar por ali abaixo, quase não sentindo a dor dos pés naquela caminhada agreste de caminhos acidentados. Cantavam cações religiosas e profanas, numa mistura a que o tal deus Baco não era nada indiferente… Estas vozes de homens e mulheres (raramente se via uma criança…um dia havia de chegar a sua vez, ao contrário de hoje que querem e lhes damos tudo, como “não houvesse um tempo”) eram acompanhadas por uma ou outra concertina e muitos “realejos” bailando naqueles beiços que nem moça serrana em primeiro coito nupcial (que, como sabem, também já não existem…). Cantavam “Ó Manel da rola tens as calças rotas, tens os olhos tortos as pernas marotas”; “Óh oliveira da serra”; e também cantigas bentas.


Por onde passavam estes bons ROMEIROS procuravam, de quando em vez, ter gestos de “bons cristãos” e então ora davam um pedaço de bola a um pedinte, a uma criança que apascentava o gado por aqueles campos (na altura não existia trabalho infantil…). Tanto assim era que, numa ocasião em que eu e meus irmãos Carlos Manuel e Isidro “andávamos com as vacas” numas terras que o nosso pai tinha em S. Silvestre, lembramo-nos de irmos “pedir uma esmola” aos ROMEIROS que peregrinavam por ali rumo à Senhora dos Remédios. Então pegamos nas roupas mais velhas que os 3 tínhamos vestidas para o Carlos vestir, assim dando a ideia de pobrezinho! Assim vestido da pior roupita dos 3, o coitado do moço lá se foi aproximando do caminho onde eles não tardariam a passar (ficando nós, eu e Isidro) escondidos cá em cima atrás de uns amieiros, instruindo o Carlos a dizer “Dê-me um esmolinha que eu sou pobrezinho”. Quando finalmente os ROMEIROS estavam a passar no caminho bem pertinho ao muro da lameira onde estava o Carlos, este começou a dizer a tal frase, só que com vergonha, não se mostrava à fileira de ROMEIROS que vinham cantarolando aos sons dos realejos. Então, eu e o Isidro, cá de cima, balbuciávamos para o Carlos para se mostrar e gritar a frase mais alto, antes que todos passassem e …nada!!!
A verdade é que o mano Carlos tinha mais vergonha que fome (fome não, mas carência dos tais “manjares”), acabando o nosso plano por ser ir pela agua abaixo…falhando redondamente!

Enfim, era esta lembrança que vos queria deixar, ao mesmo tempo que presto uma simbólica homenagem a esses homens e mulheres que à volta de Penude e Lamego serpenteavam pelos caminhos da nossa infância rumo à padroeira da cidade de Lamego na “ROMARIA DE PORTUGAL” que Nossa Senhora dos Remédios já foi e que hoje passa tão discretamente no mapa das nossas folias e piedades…

E aos que ainda rumarem até Lamego às festas de Nossa Senhora dos Remédios, desejo as maiores felicidades e bênçãos da Senhora.

Abraço a todos.

5 de Setembro 2011-09-04


Filipe Lamelas

A "Nossa Senhora dos Remédios" já foi "A ROMARIA DE PORTUGAL"

segunda-feira, 25 de julho de 2011

"A CIGARRA E A FORMIGA"


Todos lembramos a famosa história da cigarra e da formiga que líamos nos nossos livros de criança. No passado, a fábula de La Fontaine era contada para ensinar pequenos e graúdos que “quem não trabuca não manduca”, isto é, “quem não trabalha não come”. Nesta ordem de valores a laboriosa formiga era apresentada como modelo de vida a imitar. Pensava-se que o homem viera ao mundo para trabalhar, e via-se mesmo neste destino uma pena sentenciada na sequência do pecado de Adão: “comerás o pão com o suor do teu rosto”. Neste mesmo contexto, a cigarra personificava o vício da preguiça e, portanto, o exemplo a não seguir. A moral da história era então muito clara: “Quem bem trabalhou, melhor descansou” ou “a preguiça colhe o que merece”. O livro bíblico dos Provérbios confirma estes ditados do nosso povo, quando diz: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, observa o seu proceder e torna-te sábio: a formiga não não tendo chefe, nem capataz, nem mestre, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa. Até quando dormirás tu, ó preguiçoso? Quando te levantarás do teu sono? Passas o tempo a dormir, cruzas os braços para descansar; assim a indigência cairá sobre ti como um salteador” (6,6-11).
Em evidente contraste com este elogio da formiga e do trabalho, nos nossos dias multiplicaram-se as novas versões da velha fábula em que os papéis e os valores se invertem. Agora é a Cigarra que aparece como modo de vida por todos invejado. Se na versão antiga se dizia “não guardes para amanhã o que podes fazer hoje”, nas novas versões corrige-se o rifão, dizendo: “não deixes de para amanhã o lazer de hoje”. Em abono desta compreensão típica dos nossos tempos, poderíamos citar também um passo bíblico, onde se diz que «mais vale um punhado de lazer do que duas mãos cheias de esforço atrás do vento» (Ecl. 4,6).
Afinal quem tem razão, a cigarra ou a formiga? Os nossos contemporâneos ou os antigos?
Na verdade, nenhuma deste, pois o trabalho é importante, mas nós não podemos viver só para o trabalho, nem a adiar a vida com a obsessão de acumular riquezas para garantir o futuro que nãos nos pertence. Por isso existe, tanto no Judaísmo como no Cristianismo e Islamismo existe “o dia do repouso”, como o mais importante dia da semana: Para nos lembrar que o “sábado (ou o domingo) é para o homem” e não é o homem que é para o sábado ou para a semana de trabalho. Mas também se deve evitar o exagero oposto da cigarra que só vive para desfrutar do hoje, num carpe die sem projecto nem compromissos. Não somos máquinas de trabalho e, por isso, temos direito aos descanso, ao lazer e ao cultivo das coisas belas; mas também não podemos ser parasitas sociais nem pretender viver em permanente ócio, como se neste mundo vivesse-mos já no “descanso eterno”.
            A famosa fábula mostra-nos que todos nós temos direito de ser cigarra e formiga e que há um tempo para trabalhar e para repousar, para semear e para colher e celebrar, um tempo para “lutar pela vida” e um tempo para concelebrar a vida e partilhar nosso bens com os outros. Mais ainda, se a cigarra nos ensina que devemos confiar na Divina Providência, a Formiga ensina-nos que esta confiança não dispensa o nosso esforço e colaboração na obra e no Reino de Deus. Devamos, sim, trabalhar como se tudo dependesse de nós e confiar sempre como se tudo dependesse de Deus. Por fim, a singela história remete-nos ainda para uma outra lição: Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar, nem tão rico que não tenha algo para receber. Por isso, quem tem mais meios, mesmo que os tenha amealhado à custa do seu honrado trabalho, não pode simplesmente escondê-los e considerá-los “seus”, já que Deus lhe deu tais dons para partilhar com quem tem menos. Por outro lado, estes últimos, não podem querer simplesmente receber ou exigir, pois também a eles Deus pede que partilhem o que são e os talentos que têm. Ninguém deve, pois, ter vergonha de, como a cigarra, “bater à porta” a pedir ajuda, assim como ninguém deve fechar a sua porta, podendo ajudar.
            Neste tempo de férias e de crise, faz-nos bem reler a fábula à luz da Escrituras Inspiradas que nos dizem, por um lado que o trabalho é “uma bênção de Deus” (Ecl 3,13) e que todos devemos “fazer render nossos talentos” (Mt 25, 14ss.); mas que também nos avisa, pela boca do próprio Jesus, que “não nos devemos inquietar com o que havemos de comer ou vestir, pois a vida é muito mais que o alimento… nem com o dia de amanhã» (cf. Mt 6, 25-31).
                                                      
                                                                                Isidro P. Lamelas

domingo, 17 de abril de 2011

AS “PITAS (ou pitos?) DE S. LÁZARO” (PENUDE)

Lembram-se das "Pitas de S. Lázaro", aquele doce amarelo-dourado em forma de "pinto" e com um ovo de recheio que uma senhora de Lamego vinha vender para a parta da Igreja no domingo anterior ao "Domingo de Ramos"? Presumo que era chamado domingo de S. Lázaro porque é o domingo mais próximo do dia em que se celebra S. Lázaro (10 de Abril). Havia mesmo o ditado que então se repatia anualmente: "S. Lázaro, Ramos, na Páscoa estamos!". Hoje pergunto-me porquê essa iguaria, precisamente nesse e só nesse dia? Consta que é um doce típico do Bairro da Ponte (Lamego). Será que a senhora vinha a Penude escorar os excedentes que não vendera nas festa do santo padroeiro da Ponte? Mesmo que assim fosse, nunca mais pude esquecer as fantasias e desejos que esse doce doirado despertava nas minhas infantis entranahas. Há tempos, numa das minhas passagens pela cidade de Lamego, encontrei, com certa surpresa minha, o dito doce à venda. Afinal não estava extinto... Claro que logo comprei para recordar o sabor e reviver velhas sensações. Mas que desilusão!... o pitéu que na infância me fazia arregalar os olhos e crescer água na boca não tinha já o mesmo sabor. Nem “pinta” conservava das delícias da "pita" nem do pitéu da minha infância, a salvava-se o tal ovo com sabor previsível. E, mais uma vez, pude constatar que as delícias e os maiores gozos da vida não têm a ver com o que podemos comprar e ter, mas com o que muito desejamos porque não nos está à mão todos os dias. Tive, mais uma vez, a sensação de que a verdadeira felicidade tem mais a ver com a fome do que com a saciedade. Aquelas "pitas de S. Lázaro" eram, afinal, um símbolo do sonho que comanda a vida e do tesouro e do grande banquete que nos espera na vida eterna. Até lá, a nossa condição terrena é demandante; somos peregrinos e itinerantes num êxodo que nos levará à terra prometida, alimentados pelo maná ideal que é sempre mais gostoso que o real. Esse maná ou essas “pitas douradas” nos sustentam, mas não nos matam a fome, pois esperamos e ansiamos por comer dos frutos da terra da promessa. E mal de nós qundo fizermos da sesta dos saciados o nosso estado de vida: não há outro remédio senão caminhar, pois é melhor morrer a caminho que viver sob o império dos Faraós. Essas "pitas douradas" da nossa infância exprimem a saciedade sempre parcial, a felicidade  sempre incompleta que todos buscamos. Quanto mais perscrutamos os mistérios mais insondável se nos revela a vida e a morte, mais sede temos do bem, do verdadeiro, do belo, do infinito. Mas é esta fome e sede que nos move. Até que esse ovo simbólico dê à luz a plenitude da vida.
                                               Isidro Lamelas

“Ò ramos, ò ramos, na Páscoa estamos!”

Há palavras que cheiram que nem rosas acabadas de abrir no acordar da primavera.
Há frases que cheiram que nem jardins acabados de regar numa destas manhãs do sol português.

“O DOMINGO DE RAMOS” é dessas expressões que me fazem arrepiar de uma indescritível nostálgica embriaguez pois me transportam lá para trás, até aos tempos de criança em que palavras como “quarenta horas” ,“quarta feira de cinzas”, “quaresma”, “jejum”, “Semana Santa” tinham um peso dramático e fundo, sacrificial é certo, mas de uma simbologia renovática que nos fazia renascer de novo no “sábado aleluia” para a alegria pascal!

Mas, de todo o ritual sagrado e transformante do “tríodo pascal”, “O DOMINGO DE RAMOS”, simbolizava para mim o perfume de Deus! Os odores fecundantes saltam para o céu azul do Abril primaveril e libertador, aproximando os pólos opostos ao grito fecundo da procriação, e, assim, assegurando a imortalidade do universo inteiro e divino. E eis-me em criança, nesse dia dos odores celestiais do “DOMINGO DE RAMOS em Penude” em que eu e tantos outros meninos, não hebreus, mas de Penude, (como o Alcides o Leonel Claro, o Manel Pinto, o Avelino Maravilha, o João Carola, o Aníbal carola, O Gil, o Arcílio, os meus irmão Carlos, Isidro, a Fátima, e tantos outras crianças que o foram em Penude) logo na semana que antecedia “O DOMINGO DE RAMOS”, corríamos numa azáfama saltitando de lameiro em lameiro, à procura de ramos de alecrim, oliveira, loureiro, lírios amarelos (que nem abelhas saltitando de flor em flor de abelhas na azáfama da produção desse néctar do deuses). Com esse material inventávamos mil e uma formas de RAMOS para, triunfantemente, entrarmos orgulhosamente igreja dentro para a guarda de honra de um “cero Galileu” que uns dois mil anos antes, apesar de ter passado a vida a fazer o bem foi crucificado pelos seus logo após a sua recepção triunfante na sua cidade (qual ironia e contradição da humanidade!).
E que formas! E que tamanhos! E que combinações tinham estes RAMOS! Havia ramos em forma de coração e outros em forma de cruz bem demonstrativos dos artistas da terra! Outros, era o que se podia ou seja, mais pareciam aquelas vassouras de giesta piorna que se usavam nas malhadas para varrer os grões de trigo ou centeio caídos na eira (apesar desta ser previamente cimentada de bosta de “baca” para que nada se perdesse de pão!). Outros RAMOS eram tudo menos ramos, dada a descomunal altura e largura que nem os maiores castanheiros dos mil e um soutos de Penude (que a moléstia depenante do “progresso a todo o custo” já quase tudo levou).

Obviamente que não resisto a falar destas ultimas obras primas do orgulho das gentes de Penude, particularmente de Penude de Baixo! Estes ramos que nem árvores só tinha um problema para os seus artistas: entrar na porta principal da nossa Igreja Paroquial de Penude! Aqueles tamanhos descomunais da mais improvisada engenharia penudense, quando chegava o momento (quase sempre angustiante porque tudo era de improviso) da entrada triunfante no templo santo, fazia lembrar a vertiginosa entrada do andor de Nossa Senhora do Rosário na capela do Outeiro, em que a coroa da “virgem santa” roçava quase até aquelas magníficos sinos altaneiros que dominam todo aquele vale).
A lembrança que tenho é que aquela procissão de árvores ambulantes vindas de Penude de Baixo mais parecia a serra das Meadas a caminho da “santa missinha dominical, como manda a Santa Madre Igreja para todos os domingos e dias santos de guarda”!

A verdade é que mal entrava o cortejo festivo, com o Senhor Abade (Pe. Manuel Rodrigues Borges) paramentado de tons festivos mais os acólitos e demais figurantes, já a Igreja estava repleta de verde e mais verde e sagradamente perfumada a alecrim, louro, e muitas flores, transformando aquele espaço sagrado no mais genesíaco jardim do eden, donde não apetecia sair mais!
Toda esta beleza terrena com sabor a céu, era depois completada com o cheiro a incenso espalhado pelo fumo santo purificado no fogo ardente do turíbulo das brasas.

Mas os momentos mais altos e gloriosos aconteciam eram a leitura do Evangelho da paixão, segundo S. Mateus (uma dor de alma para nós, pequenada, ouvir naquela voz majestosa do Pe. Borges, o tanto de mal que fizeram Àquele jovem galileu que passou o mundo a fazer o bem) e sobretudo o momento da bênção dos RAMOS, em que do ensope e da caldeirinha eram despejadas pingas e mais pingas de água benta espalhadas, que escorriam voluptuosamente sobre aquela floresta santa de RAMOS e as nossas cabeças completamente em êxtase! Nesta azáfama sobrenatural da benzedura ramalhítica, por vezes aconteciam alguns atropelos do moveu, estendendo seus ramos ao chuvisco bento (pois quanto mais agua mais sagrado iam os ramos para endeusar as casas e Sta. Bárbara melhor valer em idus de tempestade medonha!).

No final lá ia a pequenada toda para suas casas com os seus ramos (agora santificados) e os ramos para as casas dos avós ou velhinhos que não podia já ir à Igreja, cabendo à pequenada fazer a boa obra, para que ninguém ficasse sem o “ramo Santo”.

E pronto, “ò ramos ó ramos, na Páscoa estamos”

Boas festas pascais para todos.
Filipe Lamelas

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A PÁSCOA DE QUE TODOS NECESSITAMOS

Sabemos que, durante longas décadas e até séculos, os cristãos celebravam apenas ou sobretudo a festa da Páscoa. Por ser considerado o acontecimento central e fundante da fé da Igreja, os cristãos comemoravam e reviviam os acontecimentos da paixão-morte e ressurreição de Jesus reconhecendo-se no mesmo destino do seu Mestre. Com o tempo, outras datas e festividades, como o natal, foram preenchendo o calendário cristão que paulatinamente foi substituindo o ciclo anual das festas e divindades pagãs. De qualquer modo, a Páscoa assumiu sempre um significado especial na vida dos cristãos de ontem e de hoje. Assim é também entre nós, mas muita coisa vai mudando, à medida e conforme a maior ou menor presença da influência da Igreja. É notório, por exemplo, que o Natal, como celebração e vivência popular generalizada, se tem sobreposto à vivência da Páscoa. Tal inversão tem, contudo, mais a ver com um menor vinculo com a fé e as Igrejas do que com uma consciência do verdadeiro significado do Natal cristão. Quanto à festa da Páscoa, esta não está tão sujeita a tal desgaste. Se o natal é a festa da família, a Pascoa é a festa da Igreja e continua, por isso, mais sob o controlo pastoral e normativo da Igreja. Mas já o foi mais. Se, para um cristão comprometido, não há domingo sem missa, nem Páscoa sem “desobriga” (confissão) e missa de Domingo Pascal, em muitos casos e sobretudo nas cidades, têm-se vindo a perder alguns das vivências litúrgicas e populares da Páscoa. Se nas aldeias e cidades do Minho ainda se celebra a Páscoa na rua com foguetes, flores e folares a acolher o Compasso (Cristo Ressuscitado que anda de casa em casa a abençoar os lares), noutras partes do país o entusiasmo popular não vai muito além das amêndoas e do pão de ló. Se os pregadores e lideres eclesiásticos continuam a recordar que a Páscoa é “passagem” para uma vida nova, e colocam o acento na morte-ressurreição celebrada na Vigília de Sábado para Domingo, facto é que muitas Igrejas se enchem mais nas sexta Feira santa e não trocam pelo “lume novo” do círio pascal o teatro das via-sacras dolorosas e procissões dos Passos que se vão renovando, cada vez mais, “para turista ver”. Sempre existiu e continuará a perdurar esta discrepância entre a teologia ou orientação dos pastores e a vivência popular dos “mistérios”. Os teólogos e as Igrejas foram sempre mais influenciados pelas crenças e práticas populares que o contrário. A teologia afirma: “o Natal sucedeu num dia de de uma vez por todas”; o nosso povo diz: “Natal é todos os dias”. A Igreja ensina: “A Páscoa é quando Deus quiser e é, por isso, todos os dias”; o povo diz: “O natal é quando o homem quiser” e “a Páscoa, como a desobriga, é uma vez ao ano”. O Natal começa nas nossas cidades cada vez mais cedo, a Igreja ensina que a Páscoa se prolonga por 50 dias e por todos os domingos do ano. Mas para a maioria ela acaba cada vez mais cedo, ou nem chega a começar...  Esta discrepância verifica-se também ao nível das tradições e modos de celebrar, muitas vezes à margem da orientação da hierarquia. Há regiões do Alentejo em que continua a celebrar-se a Páscoa sem padre nem bispo: À maneira dos antigos judeus o povo acampa à beira rio, comendo o cordeiro, à espera da “Passagem”. Em muitas aldeias do nosso país mantêm-se formas de dramatização da Paixão de Jesus, onde o corpo social se revê e renova: aí Judas continua a ser mesmo o traidor, merecedor de estoirar como um foguete por ter vendido Cristo por 30 moedas; Aí Pilatos continua a lavar as mãos como tantos de nós; Aí Barrabás continua a ser posto em liberdade para que o “justo pague pelo pecador”; aí as “Senhora das Dores” e as mulheres continuam a chorar lágrimas a que se associam tantas mulheres e mães do mundo; aí Cireneu e Verónica continuam a representar o lado bom da humanidade solidária com o seu próximo. Por tudo isto e muito mais, o drama da Páscoa continua a tocar o coração do nosso povo: É que todos nos revemos nesta urgência de “passagem” da morte à vida; da crise à esperança; da dor sem sentido ao amor com seus espinhos. Facto é que, na paixão de Cristo os homens de hoje continuam a ver a sua paixão e as paixões do mundo sofredor sedento de redenção. Nela todos continuarmos a aprender a grande lição da Cruz, assim expressa por S. Francisco de Assis: “é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a Vida Plena”
(Texto publicado no jornal I).
                                                                                        Isidro Lamelas
Com votos de Santa e Feliz Páscoa para todos.

Um certo dia um homem esteve aqui
Tinha o olhar mais belo que já existiu
Tinha no cantar uma oração.
E no falar a mais linda canção que já se ouviu.
Sua voz falava só de amor
Todo gesto seu era de amor
E paz, Ele trazia no coração.
Ele pelos campos caminhou
Subiu as montanhas e falou do amor maior.
Fez a luz brilhar na escuridão
O sol nascer em cada coração que compreendeu
Que além da vida que se tem
Existe uma outra vida além e assim...
O renascer, morrer não é o fim.
Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir
Eu sei que Ele um dia vai voltar
E nos mesmos campos procurar o que plantou.
E colher o que de bom nasceu
Chorar pela semente que morreu sem florescer.
Mas ainda há tempo de plantar
Fazer dentro de si a flor do bem crescer
Pra Lhe entregar
Quando Ele aqui chegar
Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir
Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

                                                   Isidro Lamelas

domingo, 3 de abril de 2011

O PRESUNTO DE LAMEGO, AFINAL É DE PENUDE.


A grande fonte de sobrevivência das gentes de Penude foi sempre a agricultura e a criação de gado. Os pastores de gado lanígero eram numerosos, ao ponto de, em 1649, o Visitador episcopal ter instituído para eles uma missa dominical antes do nascer do sol. Quanto aos bois/vacas vermelhas, serviam sobretudo para os trabalhos do campo. Em 1843 havia em Penude 64 carros de vacas (apenas três puxados a bois). Mas o grande amigo dos penudenses era mesmo o porco. Efectivamente, Penude foi sempre terra de criação de porcos e desenvolveu, ao longo dos séculos e gerações, uma verdadeira arte no aproveitamento e tratamento de cada uma das peças da carne suína e mormente do presunto. Podemos mesmo orgulhar-nos de ser os criadores do famoso presunto de Lamego, essa marca de qualidade tão apreciada e conhecido em todo o país. De facto, era de Penude (e Magueija) que essa famosa iguaria era fornecida para os vendedores de Lamego que, por sua vez, se encarregaram de a divulgar pelos quatro cantos do país.

Em Penude, casa que não cevasse porco e não tivesse matança era sinal de pobreza ou mau governo doméstico. A salgadeira era a grande reserva de condoito para todo o ano. Aos que não matavam, era costume os vizinhos levarem pelo menos uma amostra da sarrabulhada. Uma parte do focinho e das orelhas do bicho era ritualmente consumida na terça feira de carnaval. Os homens levantavam-se à hora da ceia para descarregarem as escopetas através da janela, ou à porta dum vizinho, para expulsarem o entrudo comilão. O resto da cabeçola ficava para o dia da malhada ou para as bessadas. Mas, como é sabido, o porco tem tantos paladares quantas as partes do seu corpo. Logo no dia da matança saboreavam-se, além do sarrabulho, algumas partes das vísceras. Outras partes mais saborosas eram guardadas na salgadeira para o dia das malhadas. Os lombos eram preparados em vinha de alhos para fazer salpicões. As
"bandas" (barriga) eram conservadas na salgadeira para ir temperando as sopas, bolas e demais pratos; As coxas em breve se chamarão presuntos (pés de trás) e pás (pés da frente). A espinha e as costelas eram guardadas na salgadeira para dar sabor à sopa ou para os pratos em dia de festa ou bessada; das costelas saíam as melhores fêveras para as gostosas assaduras – mas
poucas, pois poupar era preciso para as moiras, e chouriças de carne. A demais carne, depois de separada dos ossos, era cortada em miúdos para ficar em vinha de alho e fazer fumeiro. Entre os salpicões bem enfileirados no caniço, tinha lugar de destaque o salpicão da língua, feito precisamente com a língua do animal. Por norma, este que era o rei dos salpicões devia ser comido no Carnaval. Matança do porco «No dia de Sto. André, faz o porco ‘cué-cué». E, de facto, Santo André não parecia muito amigo deste animal tão imprescindível na salgadeira e economia das gentes penudenses. Mas também S. Martinho ia pelo mesmo caminho quando dava razão ao dito: «no dia de S. Martinho mata-se o porco e prova-se o vinho». Assim sucedia, de facto, num tempo em que nem os santos pareciam preocupados com os direitos dos animais.
Quando o vinho novo já fervilhava no tonel, os castanheiros se despiam de suas últimas folhas e a faina agrícola amainava, era tempo de pensar em lavar a salgadeira que servirá de frigorífico e de talho para o ano inteiro. No dia marcado e combinado com os familiares ou algum amigo mais próximo, bem cedinho começava o dia, com o afiar das facas e preparação do banco e alguidares para a matança. De véspera, o animal ficava em jejum, para evitar que as entranhas se perfurassem na hora de "abrir". Às mulheres cabiam as tarefas de manter o lume aceso para aquecer a água para lavar o bicho e as tripas, assim como o pote para coser o sarrabulho.


Uma vez tudo preparado, era hora de consumar a parte cruenta do ritual. O animal bem cevado era trazido à força e colocado no banco apropriado, onde era amarrado e segurado por braços habituados a esforços suplementares. Os lugares assumidos por este serviço, estritamente reservado aos homens, não era arbitrário. Estatuto especial tinha, desde logo, o matador que punha todo o brio em fazer um "serviço bem feito". Mas também para cada outra tarefa havia o homem certo. No meio de rugidos aflitivos do animal e do alarido de homens e mulheres, depressa o animal se esvaia em sangue que jorrava para diferentes alguidares e era aproveitado até à última gota, conforme o destino a dar ao mesmo: ou para o sarrabulho ou para as chouriças de sangue de entre as quais as "moiras" eram as mais apetecidas. Mas havia sempre alguém que não escondia os sentimentos de pena pelo animal, ao que se atribuía a frequente demora com que a vítima dava o último esticão. Seguia-se a tarefa de chamuscar o porco, com lumieiras feitas de palha de centeio, previamente preparadas e protegidas da chuva para arderem e queimarem o pelo do animal como deve a ser. Depois do sacrifício, tinha então lugar uma espécie de holocausto em que o fogo assumia o seu habitual papel. Em cada uma destas fazes, os cheiros vão-se sucedendo e alterando do mesmo modo que o aspecto do animal imolado. Depois do fogo que tinha por função imolar todo o tipo de impurezas, o porco estava prestes a "mudar de nome", graças à intervenção de um novo elemento do ritual: a água com que se lava toda a sujidade natural de quem sempre foi "porco". Pouco a pouco, a vítima ia ganhando um aspecto mais conforme ao seu destino. Uma vez terminado este primeiro e último banho do animal, era o momento de uma merecida pausa para, sobre o próprio corpo do animal, se preparar a mesa e saborear as primícias deste sacrifício: o sarrabulho, isto é, o sangue da vítima simplesmente cozido em água, com algum dente de alho. De copo na mão bem perfumada com os odores do animal, os autores da imolação vão dando palpites sobre o peso do porco, enquanto um destes, muitas vezes movido com segundos intuitos de brincadeira, preparava o benchilho de palha para limpar o reto ao animal. Terminado o breve banquete, estavam retomadas as energias para carregar o bicho para o dependurar no chambaril já colocado numa das traves da loja. O matador retomava agora a faca adequada para abrir o porco. Esta era uma operação que requeria particular destreza e se transformava, muitas vezes, numa repetida lição de anatomia prática, conforme o refrão popular: "Se queres conhecer o teu corpo, abre ou desmancha o teu porco". O momento era de grande ansiedade. À medida que se abriam as entranhas do porco, eram muitas as expectativas: O matador rezava para que as tripas não estivessem muito cheias e alguma delas viesse a rebentar; os donos do animal esperavam que tivesse muitos untos, num tempo em que a gordura era sinónimo tanto de formosura como de fartura, as crianças esperavam impacientemente que fosse retirada a bexiga, para dela fazerem uma bola de futebol, ainda que o efeito fosse mais de rugby e até os cachorros esperavam, quase nunca em vão, participar do Caso não se quisesse fazer as vontades à canalha, a bexiga, depois de cheia com gorduras, era posta a secar junto ao fumo da lareira como troféu ou prova de que se tinha feito a matança. As tripas eram então separadas das demais vísceras e cobertas com o redanho, que, depois de separado das tripas, se derretia em manteiga. As mulheres deitavam então mãos à tarefa menos grata e que só a elas competia: lavar as tripas que irão ser usadas para encher chouriças e salpicões, depois de lavadas e refriadas durante uns dias. » Desmancha Dois dias depois, durante os quais as carnes do bicho ficavam duras e secas, tinha lugar a desmancha: o porco era criteriosamente partido e separado peça a peça. E vai ser outro dia de fartura. As brasas na lareira estão já bem vivas para receber as "assadura": pequenas fêveras assadas directamente na brasa que tinham sempre um sabor único. No mesmo lume eram feitos os torresmos, num ponte de ferro donde se espalhava um aroma de fazer crescer água na boca que só um copo de vinho novo conseguia amainar. Dos torresmos era separada a manteiga com que, ao longo do ano, se fazia o "caldo de manteiga" e se temperavam as demais sopas e pratos. No dia da matança, era costume levar aos vizinhos que não matavam, um prato de arroz com sarrabulho e torresmos. Sucedia, muito frequentemente, que pouco sobrava para a salgadeira, já que eram muitos os que não tinham meios para cevar um bacorinho. Por aqui, e por todo o demais ritual ligado ao porco, se percebe a importância não só económica, mas também cultural e social deste animal na vida das nossas gentes passadas.

Autor:Isidro Pereira Lamelas.

* Nota: O texto apresentado é de grande valor histórico e relata o quotidiano das gentes de Penude e há várias décadas.

Merece um destaque especial no blogue, por isso, aqui fica republicado na íntegra.

Um excelente trabalho do nosso querido amigo Isidro Lamelas.

* Manuel Dória Vilar

UM NOVO APAGÃO ? NÃO.


ESCLARECIMENTO E SUGESTÃO

» Os textos publicados há poucos dias neste blogue desapareceram.

» Esclarecemos que não foi nenhum apagão.

Os autores desses mesmos textos consideraram retirá-los porque já constam na página web oficial de Penude.


» Por mim deveriam republicá-los aqui, porque muitos dos nossos leitores bloguistas poderão preferir aceder directamente ao blogue e não ir à página.

» Fica a sugestão.

terça-feira, 22 de março de 2011

HORA DE INVERNO E VERÃO PARA 2011 - MUDANÇA DA HORA: 27/03/2001 (ADIANTA 60 MINUTOS)

Em conformidade com a legislação portuguesa, em vigor, a hora legal em Portugal continental e Ilhas (Madeira e Arquipélago dos Açores ) será adiantada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 27 de Março e atrasada de 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 30 de Outubro.
» Cfr. Decreto-Lei nº. 17/96, de 8 de Março
Artigo 1º.
1 - A hora legal de Portugal continental coincide com o tempo universal coordenado (UTC) no período compreendido entre a 1 hora UTC do último domingo de Outubro e a 1 hora UTC do último domingo de Março seguinte (hora de Inverno).
2 - A hora legal coincide com o tempo universal coordenado aumentado de sessenta minutos no período compreendido entre a 1 hora UTC do último domingo de Março e a 1 hora UTC do último domingo de Outubro (hora de Verão).
Artigo 2º.
As mudanças de hora efectuar-se-ão adiantando os relógios de sessenta minutos à 1 hora UTC do último domingo de Março e atrasando-os de sessenta minutos à 1 hora UTC do último domingo de Outubro seguinte.
» Região Autónoma da Madeira - Decreto Legislativo Regional nº. 6/96/M, de 25 de Junho.
» Região Autónoma dos Açores - Decreto Legislativo Regional nº. 16/96/A, de 1 de Agosto.

INICIO DA PRIMAVERA: 21/03/2011

A primavera é a estação do ano que se segue ao Inverno e precede o Verão. É tipicamente associada ao reflorescimento da flora e da fauna terrestres.
» A Primavera do hemisfério norte é chamada de "Primavera boreal", e a do hemisfério sul é chamada de "Primavera austral". A "Primavera boreal" tem início, no Hemisfério Norte, a 21 de Março e termina a 21 de Junho. A "Primavera austral" tem início, no Hemisfério Sul, a 23 de Setembro e termina a 21 de Dezembro.
» Do ponto de vista da Astronomia, a primavera do hemisfério sul inicia-se no equinócio de Setembro e termina no solstício de Dezembro, no caso do hemisfério norte inicia-se no equinócio de Março e termina no solstício de Junho.
» Na astronomia, equinócio é definido como o instante em que o Sol, na sua órbita aparente, (como vista da Terra), cruza o plano do equador celeste (a linha do equador terrestre projetada na esfera celeste). Mais precisamente é o ponto no qual a eclíptica cruza o equador celeste.
» A palavra equinócio vem do Latim, aequus (igual) e nox (noite), e significa "noites iguais", ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo. Ao medir a duração do dia, considera-se que o nascer do Sol (alvorada ou dilúculo) é o instante em que metade do círculo solar está acima do horizonte, e o pôr do Sol (crepúsculo ou ocaso) o instante em que o círculo solar está metade abaixo do horizonte. Com esta definição, o dia e a noite durante os equinócios têm igualmente 12 horas de duração.
» Os equinócios ocorrem nos meses de março e setembro e definem as mudanças de estação. No hemisfério norte a primavera inicia-se em março, e o outono em setembro. No hemisfério sul é o contrário: a primavera inicia-se em setembro, e o outono em março.

segunda-feira, 21 de março de 2011

SONDAGEM SOBRE OS PENUDENDES

SONDAGEM
Ora cá está uma nova iniciativa sobre o saber onde residem os Penudenses.
Colabore. Participe
Vamos saber onde vivem e trabalham muitos daqueles que gostam da sua terra e por onde andam.
A votação para esta sondagem está em aberto até ao dia 31/12/2011.

Convites para entrar no Blog

Caros amigos,
Como já sabem foi recriado um novo Blog para Penude, por se ter perdido acidentalmente (?)o anterior.
Agora será necessário enviarem-me os vossos e.mails, para vos inscrever na lista dos intervenientes no Blog.
Acabei de fazer isso para os casos de quem disponho de e.mail
Abraço
JPLam

APELO À REPOSIÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS DA HISTÓRIA DE PENUDE

Acerca do novo blogue.
Concordo plenamente com o nosso amigo JMOV e com a sua sugestão.
Vamos convidar colaboradores para escreverem, com liberdade de expressão e com a possibilidade de colocarem as postagens, (textos) mas sem permissões de Administradores, pois deste modo já não será possível alterar nada no blogue e muito menos apagá-lo.
Ficarei atento para dar as permissões ou de administrador ou somente de colaborador.
Todos os anteriores textos e imagens com histórias e discussões fantásticas perderam-se irremediavelmente.
Apelo a todos esses colaboradores que de novo exponham as suas ideias, as suas legitimas discussões e imagens porquanto esses mesmos textos são um relato do quotidiano e contêm muita da história das nossas gentes e da localidade de Penude e arredores.
Há factos que na realidade são a história concreta de Penude e merecem ser contados por quem os viveu, deles tem conhecimento directo por familiares e amigos ou por pesquisa.
CONCLUSÃO:
A história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro.

sábado, 19 de março de 2011

AFINAL É FÁCIL DESTRUIR. CRIAR E MANTER É MAIS DIFÍCIL.

Já não se pode ir de férias descansado, disse-me hoje (18/03/2011) o José Lamelas.
MDV:O que aconteceu ? Tiveste algum problema de saúde ou familiar?
JPL:Não, felizmente. Apagaram foi com o blog.
MDV:É pá, não me digas ! Sabes quem foi ?
JPL:Isso gostava eu de saber. O que poderá ter acontecido ?
MDV: Ó Zé deve ter sido um problema técnico. Alguém o apagou sem querer e pronto lá se foi. Só pode ter sido um dos administradores e por grande descuido.
JPL: E então ninguém se acusou até agora ? Muito estranho.
MDV: Vírus não foi de certeza. Conta os administradores, vê os nomes, pensa, analisa e pronto.
JPL: Não estou a ver. Bom, passemos à frente. O problema é que se perderam todos os conteúdos e já não se recuperam.
MDV:Isso é verdade. Terão de voltar a escrever os textos e a inserir as imagens.
JPL: Vamos ultrapassar a crise e criar um novo blog.
MDV: É para já. Vamos lá ...
«Silêncio»
Ouvem-se as teclas do computador. Tira daqui mete dali. Códigos, etc. ....
MDV: Vamos escolher o nome do novo blog. Diz lá um nome.
JPL: Penude
MDV: Ocupado, já existe, não pode ser ...
JPL: Bom e estes nomes ? Blá, blá, bla´, ...
MDV: Não dá.
JPL: Olha experimenta - penudelamego
MDV: Boa, o sistema aceitou.
JPL: Fica já esse.
MDV: Ok. Já está criado.
MDV: Vamos ao trabalho. Convida os novos administradores do blog e sorte e que no futuro tenham mais cuidado.
JPL: Ok. Obrigado.Um abraço.
MDV: De nada. Manda sempre.Abraço
MORAL DA HISTÓRIA: Destruir é fácil. Criar é mais difícil.
" É mais fácil encontrar quem chore com as nossas tristezas que quem rejubile com as nossas alegrias."

sexta-feira, 18 de março de 2011

RECUPERAÇÃO DO BLOG

Depois de uns meses de ausência das minhas visitas ao site de Penude (período algo tormentoso) e após o regresso nesta semana (no intervalo de uma aula)verifiquei com grande estranheza que alguém tinha terminado com o nosso BLOG.
Hoje entrei em contacto com o Amigo Dr. Manuel Dória Vilar que (mais uma vez) fez o favor de colaborar na resolução deste incidente, recriando um novo Blog comigo, depois de uma boa maquia de tempo ao telefone (isto par dizer que para acabar com o Blog basta que alguém com abertura para ter acesso a ele, i. é, qualquer um que nele possa escrever directamente (co-administradores)clik "terminer blog" e pronto, morreu e foi-se todo o histórico e a possibilidade de o manter vivo.
E a única explicação técnica que me foi dada foi de que alguém (provavelmente por ignorância) o terá feito e "fechou-se em copas"...

Posto isto, e actualizando a leitura do correio do livro de visitas (que, como se vê, substitui suficientemente o Blog)também fiquei algo surpreendido com algumas frases (ou insinuações?...) que não esperava. Até porque ninguém comunicou comigo por outros meios, nem parece ter tentado resolver o problema... Sim, porque qualquer um de nós pode criar um Blog ou pedir ajuda para o fazer , como agora eu o fiz... Os objectivos e princípios deste nosso meio de comunicação estão definidos e escritos desde o princípio e todos contamos com a inteligência do bom senso. A partir daqui a liberdade é total e tem funcionado e vai continuar a funcionar.
Vá, façam o favor de ter a coragem de ser inivadores e diferentes. Para poderem recomeçar o acesso ao Blog, quem quiser, terá de me enviar o endereço electrónico, para eu abrir essa possibilidade, o que farei com todo o gosto. Mas comprometam-se a não cometer novamente este erro que acabou com o noss anterior Blog!!!
Sempre ao vosso dispor. JPLam

RENASCIMENTO DE PENUDE

Por qualquer motivo Penude desapareceu misteriosamente do espaço internauta há uns dias ( alguém apagou o blog, por distracção ? Só pode ter sido). Ninguém sabe o que verdadeiramente aconteceu. Mas voltamos de novo. Por vezes as más companhias dão nisto. Não estou a acusar ninguém. Vamos levar a nossa tarefa para a frente e vamos fazer de conta que nada aconteceu.